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BLOG FANTÁSTICO MUNDO

Esfinge -Parte II- Os Olhos da Esfinge

"A Cegueira da Paixão e a Solidão do Amor Inconsequente"

Nesta segunda parte, busco aprofundar a relação simbólica entre a Esfinge e o olhar humano. O mistério da pedra e o mistério do amor se tornam um só: ambos silenciosos, ambos eternos. “Os olhos da Esfinge” é a continuação do diálogo iniciado em Esfinge – parte I, agora mais íntimo e doloroso, refletindo a cegueira que acompanha o sentimento mais puro.

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Os olhos da Esfinge



O calor do dia, lentamente se esvanece,

o vento que sopra desfaz meus cabelos,

desfaz os meus sonhos que de dor esmorecem,

se perdem nas sombras que encobrem os camelos.


Nas dunas, que o crepúsculo sombreia,

ela jaz imóvel, petrificada, amortecida.

O corpo frígido prostrado na areia,

qual deusa de pedra, pelo tempo vencida.


Olha as dunas sumirem no horizonte.

A sua face sem jamais se alterar.

Seu pálido olhar se perde nos montes,

mas na verdade sem nunca enxergar.


Como teus olhos, na isolada paisagem,

são os meus olhos perdidos na dor.

Guardando sempre uma distinta imagem,

em meu peito ofegante com todo amor.


Também como tu, oh ser dormente,

vive o meu peito pesaroso a sofrer

de uma paixão terrível, inconsequente,

que castiga aos poucos todo o meu ser.


Mas descansa em tua madorra, ser colossal,

Não só terrível é o destino que lhe aflige,

pois se teus olhos não enxergam todo o meu mal,

os olhos do amor são como os olhos da esfinge!


Alexandre Menphis – Do livro " Vidas de Areia ”

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“Os olhos da Esfinge” - Análise literária do Blog

Fantástico Mundo


Neste segundo poema, o eu lírico retorna ao cenário do deserto, mas agora a contemplação ganha um caráter interiorizado e trágico. O olhar da Esfinge — outrora símbolo de mistério e eternidade — torna-se um espelho do próprio sofrimento humano.

Há aqui uma fusão entre o deserto externo e o deserto da alma.

O poema abre com versos suaves e melancólicos: o “calor do dia” que se esvanece e o “vento que desfaz os cabelos” remetem ao fim do dia e, simbolicamente, ao declínio da esperança. Essa atmosfera crepuscular se mantém ao longo de toda a composição, marcada por um ritmo clássico e cadenciado.

A Esfinge é apresentada como “deusa de pedra, pelo tempo vencida”, o que inverte o olhar mítico tradicional: a figura imortal é humanizada, quase trágica. Essa inversão ecoa o drama do eu lírico — ambos estão “vencidos pelo tempo”, ambos “não enxergam”, mas sentem.


A Esfinge, o Tempo e a Madorra da Paixão


No primeiro poema, a Esfinge era o símbolo da solidão eterna, a bacante de pedra que desafiava a breve vida do poeta. Agora, em "Os olhos da esfinge", o foco se estreita para a terrível similaridade entre a estátua colossal e o coração humano.

O crepúsculo no Vale de Gizé não é apenas um cenário, mas um estado de espírito. O calor do dia se esvai, os sonhos "esmorecem" e o eu lírico se desnuda na paisagem:

O vento que sopra desfaz meus cabelos, desfaz os meus sonhos que de dor esmorecem,

A Esfinge, enquanto isso, jaz "imóvel, petrificada, amortecida", vencida não pela luta, mas pelo próprio tempo. A dor que antes era compartilhada ("percebo tua solidão, como percebes a minha") agora se torna uma dor que imita a outra.

O Enigma da Cegueira

O ponto central deste novo diálogo é a negação da visão, a "cegueira" do monumento:

Seu pálido olhar se perde nos montes, mas na verdade sem nunca enxergar.

É neste detalhe que o poeta encontra o elo mais profundo com sua própria condição. Se a Esfinge não vê o horizonte que encobre, o eu lírico também tem os olhos perdidos, mas presos a uma "distinta imagem" de amor.

A paixão, descrita como "terrível, inconsequente", transforma o peito do poeta em uma réplica do corpo inerte da Esfinge: ambos estão "dormentes", prostrados e sofrendo. É a madorra, um sono profundo e pesado, imposto pelo destino.

A Revelação Final

O final do poema é uma conclusão poderosa e melancólica. O eu lírico parece aceitar a sua sina, mas a transforma em uma metáfora universal:

pois se teus olhos não enxergam todo o meu mal, os olhos do amor são como os olhos da esfinge!

Aqui, o poema alcança o ápice filosófico da série. O amor é comparado ao mistério insondável da Esfinge — cego, mas profundo; silencioso, mas absoluto.


O amor, quando é dor, paixão terrível ou inconsequente, é cego.

  1. Cego para a dor do outroA Esfinge não pode enxergar o sofrimento do poeta.

  2. Cego para a realidade: O poeta, na sua paixão, está tão petrificado quanto a Esfinge, incapaz de enxergar o horizonte ou a possibilidade de alívio.

  3. Cego por estar fixo: O amor que castiga é aquele que, como a estátua, está fixo na mesma imagem e no mesmo lugar, sem conseguir se mover para a frente ou ver o fim da duna.

A conclusão é que a maior tragédia da paixão é a sua incapacidade de ver ou ser vista. O amor se torna, ele próprio, um colossal, mas cego, monumento de dor.


Convite à Reflexão:

Você já se sentiu com os "olhos da esfinge" mergulhado em uma paixão? Aquela sensação de estar imóvel, cego pela própria dor, enquanto o tempo passa, indiferente, ao seu redor?

Compartilhe sua experiência e o que achou do poema e da análise do Blog.

Até breve.

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Confira a parte 1 de Esfinge, aqui no Blog:


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