A Esfinge- Parte 1 - O Diálogo Silencioso Entre a Solidão Eterna e o Tempo Humano
- Alexandre Menphis
- 27 de out.
- 3 min de leitura

A Grande Esfinge de Gizé, colossal guardiã de pedra que assiste a milênios de história, sempre despertou mais do que admiração: ela nos convida ao enigma. Qual o segredo que se esconde em seu semblante? Por que o olhar perdido entre o céu e a areia parece nos fitar com tanta melancolia?
O poema "Esfinge" mergulha neste mistério, transformando o monumento em um espelho da alma humana. Neste poema, busquei dar voz à Esfinge e ao silêncio que habita entre o humano e o eterno. A pedra, o deserto e o olhar fixo da estátua tornam-se espelhos da solidão e da busca por sentido. É a primeira parte de uma série sobre o fascínio e o mistério das antigas civilizações que me aventurei a trazer para meu mundo literário.
ESFINGE
Esfinge de pedra que encobre o horizonte
estirada na areia feito uma bacante.
Esfinge, o que escondes
em teu triste semblante?
Seus olhos perdidos entre o céu de luar,
qual uma deusa de pedra sempre a me fitar.
Esfinge, o que escondes
em teu triste olhar?
Ao contemplar-te, monumento colossal,
percebo tua solidão, como percebes a minha.
O que teremos feito, nós dois de tão mal,
para que nossas vidas sejam tão sozinhas?
Esfinge de pedra do Vale de Gizé,
sei que em ti se esconde a beleza de uma rainha.
Eu sou um homem, tu és uma mulher
mas não posso ser teu, nem tu podes ser minha.
Mas por que me olhas assim, então,
como se de mim, quisesse debochar?
Enquanto é eterna a tua solidão,
a minha um dia irá terminar !
Esfinge de pedra que na areia estás,
inerte, assiste no mundo, o tempo passar.
(Alexandre Menphis – do livro "Vidas de Areia)
A Esfinge, a Bacante e o Enigma da Solidão
Analisando o poema Esfinge
A imagem inicial é poderosa: "Esfinge de pedra que encobre o horizonte / estirada na areia feito uma bacante."
A referência à bacante — sacerdotisa de Baco, conhecida por seu êxtase selvagem e desmedido — choca-se com a inércia fria da pedra. Este contraste nos faz perguntar: a solidão da Esfinge é apenas a quietude da eternidade, ou a contenção forçada de uma paixão, de uma beleza ("a beleza de uma rainha") que jamais poderá se manifestar?
O Espelho de Gizé
No cerne do poema está o encontro de duas solidões: a milenar e inabalável da Esfinge, e a finita e palpável do eu lírico.
Ao contemplar-te, monumento colossal, percebo tua solidão, como percebes a minha.
É um momento de profunda conexão e, ao mesmo tempo, de separação absoluta. O que o homem e a estátua teriam feito de "tão mal" para serem condenados a vidas tão solitárias? O castigo da Esfinge, neste contexto, parece ser a eternidade sem a possibilidade de amar, uma existência "mulher" negada a ser "minha", e ele, um homem fadado a uma conexão impossível.
A oposição entre “sou um homem, tu és uma mulher” e o verso seguinte “mas não posso ser teu, nem tu podes ser minha” sugere uma tragédia simbólica: o amor e a compreensão entre o mortal e o eterno são impossíveis. Ainda assim, há ternura e cumplicidade — a Esfinge “percebe a solidão” dele, e ele reconhece a dela.
O Desafio e o Fim da Solidão
Mas o poema não se rende à melancolia completa. A última estrofe traz um desafio, um lampejo de esperança (ou talvez de petulância humana):
Enquanto é eterna a tua solidão, a minha um dia irá terminar !
A Esfinge, imutável e inerte, apenas assiste o tempo passar. O homem, por sua vez, é finito, mas essa finitude traz consigo a promessa (ou a certeza) de que sua dor e solidão um dia terão um fim. Neste sentido, o poeta se liberta do "deboche" do olhar da Esfinge, reafirmando a dignidade e a breve intensidade da vida humana.
Se você gostou do Poema e da análise do Blog deixe curta e deixe seu comentário, nos encontramos na segunda parte de A Esfinge com o poema Os Olhos da Esfinge.
Abraços fraternos.





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