Os Capelobos
- Alexandre Menphis
- 2 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de mai. de 2023
OS Seres de Orokaba- episódio 1

O capelobo, segundo as lendas regionais do Pará e Maranhão, é descrito como um ser monstruoso que costuma rondar as casas e acampamentos erguidos em regiões de matagais, com o intuito de sugar o sangue e os miolos de suas vítimas. A sinistra criatura pode aparecer no formato de animal: uma imensa anta com focinho de porco ou cão, ou na forma humana, um homem com a cabeça de tamanduá ou de tapir.
No universo de Orokaba, os capelobos são uma raça de seres inteligentes e capazes de assumir a aparência dos seres humanos e com eles se relacionarem. Seus ancestrais selvagens, se embrenhando nas matas escuras e intransponíveis, perderam o contato com os seres humanos, tornando-se com o passar do tempo cada vez mais selvagens e sanguinários, muito próximos ao que as lendas sobre eles mencionam.
Entrementes, os habitantes de Xuclotal, ou País dos Capelobos, como costuma ser designado um dos reinos do Mundo dos Encantados, são um povo até certo ponto civilizado. Fato originário do constante relacionamento com as ninfas e os seres de Nhandeara, o Reino das Águas, e da Colmeia, a cidade das Abelhas.
O contato com os habitantes de Pindorama — capelobos vez ou outra atravessavam os portais que uniam os dois mundos, embora as leis de Orokaba proibissem tal conduta — causaram uma intensa impressão nesses seres. Transmorfos por natureza, passaram a ostentar na maioria das vezes a forma humana, nela incutindo valores e padrões de beleza. Também o aumento crescente de híbridos, resultantes dos relacionamentos com os seres humanos, acentuaram esse conceito, tanto que na capital de Xuclotal, Itikaploch, os monarcas se apresentavam sempre na forma humana e leis foram criadas, obrigando a plebe imitar os seus monarcas.
Tornaram-se, desta feita, uma raça preconceituosa ao extremo. Renegaram a aparência típica de sua raça e passaram a ostentar quase que permanentemente o aspecto físico dos seres humanos. Tais normas de conduta estabelecidas pela monarquia geraram descontentamentos e revoltas.
A seguir, um trecho do livro O Guará nos revela, através da conversa de duas irmãs da etnia maguta, o encontro com um capelobo, e seu interesse sexual pelas fêmeas humanas:
A voz de Jarina soou pesarosa, seus olhos estavam distantes mergulhados na penumbra do passado:
— Foi numa tarde quando me olhava na beira d’água que aquela coisa me atacou. Foi horrível! O bicho me arrastou pro rio e nas águas fez o que queria comigo. Lembro daquela tromba mole e quente fungando nas minhas orelhas e descendo pelo meu pescoço… — Iaci calou-se com a voz embargada. Jarina a abraçou enquanto ela dava vazão às suas lágrimas.
Passado o rompante e após beber de uma cuia que a irmã lhe ofertara, Iaci refeita prosseguiu:
— Depois de algumas luas descobri que tava embuchada! O resto você se lembra. Fui maltratada por nosso pai, que queria saber quem tinha mexido comigo. Quando a criança nasceu, tive vontade de afogá-la no rio. Nossa mãe não deixou e foi ela quem criou Potyara.
Em outro trecho, agora do livro Moara, a Princesa dos Incas, somos agraciados pela fala de Tapira, uma das personagens a respeito do que seriam de fato os capelobos:
— Capelobos são pessoas de outra raça. Eles se relacionam com os humanos, falam como eles e às vezes se apaixonam também por eles. Meu pai era um capelobo e minha mãe uma mestiça de capelobo com humano.
Aqueles que ainda não sabiam que Tapira era um capelobo se olharam assustados. Diante deles a mulher deixou-se revelar. Seu rosto adquiriu uma aparência mista de mulher e anta. Em seguida, voltando à forma humana, prosseguiu:
— Nossa raça é oriunda de Xuclotal, como meu filho mencionou, o país dos capelobos. Um reino de belas e ricas cidades e povoados imensos. No entanto, nas matas mais escuras e inexploradas de nossa terra, existe um ramo de nossa raça que persiste na mais completa selvageria. Distanciando dos povos civilizados de nosso mundo, e vivendo nas profundezas das matas, passaram a agir como feras. Talvez seja devido à conduta desses seres que a fama de perverso tenha se estendido a toda a minha raça.
Por enquanto é só, meus amigos, têm muito mais capelobos e seres fantásticos de nossa mitologia esperando por vocês nas páginas de Moara, a princesa dos Incas, Kulkucaia a bruxa e O Guará.
A seguir falaremos um pouco sobre outro grupo de seres considerados inimigos naturais dos capelobos, os homens-guarás.
Até breve.
Abraços fraternos,
Alexandre Menphis



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