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A tumba do horror - parte final

Foto do escritor: Alexandre MenphisAlexandre Menphis


4 — Sussurros mortais


Jeanne esperava impaciente. Sentada próxima à porta de ouro, ouvidos atentos, aguardava o instante em que Michel deixaria o sombrio túnel. No entanto, ruídos estranhos foram ouvidos. A jovem, pegando um lampião, passou a clarear a entrada do labirinto. Foi quando uma voz rouca soou distante e sombria:

— Jeanne, Jeanne!

— É você, Michel querido?

— Jeanne… — sussurrou uma voz.

— Michel? Oh! Não, não…

Braços ressequidos e cadavéricos surgiram da abertura e bruscamente agarraram a mulher que deixara o lampião cair. Um grito de desespero repercutiu no ar, tragado por uma gargalhada dantesca. O fogo, em poucos minutos, se alastrou pela antecâmara, buscando com sua fome voraz os tecidos e objetos inflamáveis, numa dança sinistra e crepitante.



5 — Horror, sangue e morte


Michel tateava o piso da câmara procurando um nicho onde pudesse se esconder e acalmar os pensamentos. O que estaria acontecendo? Quem estava lhe perseguindo? Não poderia ser a múmia. O que vira na câmara do tesouro havia sido apenas uma ilusão. Seria Pierre? Por que não pensara antes? Pablo perguntara por seu corpo e ele simplesmente não estava onde era para estar! Afinal, defuntos não desaparecem, muito menos saem andando, a não ser que ele não estivesse morto! Sua lanterna também havia desaparecido. Teria sido ele?

O suor descia-lhe pela testa, escorrendo por seu rosto. Pensou em Jeanne, em Pablo e por último na joia que havia tirado do pescoço da múmia. Procurou-a. Estava em seu bolso. Sorriu. Tudo certamente não havia passado de delírios da sua mente, ele deveria estar febril. Fechou os olhos, procurando respirar, logo estaria de volta para os braços de Jeanne. Com ela viajaria o mundo.

Um barulho vinha do corredor e o claro de uma luz — a princípio tênue, mas gradualmente se intensificando — anunciava que alguém estava chegando. Sorriu satisfeito, seria Pablo, ou quem sabe sua querida Jeanne, vindo em sua busca.

Um grito de horror escapou-lhe da garganta e ele, aterrorizado, se recusava a acreditar no que via. À sua frente, a múmia hedionda trazia penduradas as cabeças de Pablo e Jeanne. Gritou horrorizado. A chama da tocha, nesse instante, iluminou a câmara sinistra. Ele estava cercado por grotescas criaturas de semblantes cadavéricos.

A múmia à sua frente se aproximava, após haver fixado a tocha na parede. Antes que pudesse fazer alguma coisa, viu a aparência da criatura se alterar, começando lentamente a transformar-se em uma linda e sedutora mulher. Lembrou-se da leitura de Pierre, aquela era Triflostenapstin, a rainha maldita.

A mulher altiva seguiu em sua direção. Seus olhos vermelhos soltavam faíscas e sua boca carnuda e sensual entreaberta deixava aparecer dentes finos e pontiagudos. Michel estava petrificado, não conseguia sair do lugar. Um frio intenso passara a tomar conta da câmara, ele sentia e sabia que seu fim estava próximo. Os mortos-vivos, à medida que a mulher se aproximava, retrocediam temerosos para o fundo da cripta, deixando Michel livre para sua senhora.

Uma dor fina e quase insuportável foi sentida pelo rapaz quando os caninos de Triflostenapstin se enterraram em seu pescoço. A rainha o havia enlaçado em um abraço mortal. Michel sentiu as vistas escurecerem enquanto sua vida era tragada. Porém, em um último instante, lembrou-se, sem saber o porquê, de Pierre. Pareceu ouvir a voz do primo alertando-o sobre a joia. Sim, a joia de Osíris! Empregando um esforço sobre-humano que não imaginava ainda possuir, retirou a pedra do bolso. Ao contato com o objeto, sentira como se uma descarga elétrica passasse por seu corpo. A rainha também sentiu e, estremecendo, afastou a boca do pescoço do rapaz. O sangue escorria de suas presas, pingando por seu queixo. Michel estava fraco e a cabeça girava, Triflostenapstin havia sugado quase toda sua força vital. Num esforço hercúleo, tentou, num impulso, enfiar o colar no pescoço da mulher, mas não conseguiu. Todavia, a gema caiu entre os enormes seios da criatura, ficando grudada neles. Um grito escapou da boca da rainha vampira, que aflita, tentava se livrar do objeto, mas quando tocava na pedra sentia os dedos queimarem. Uma fumaça negra e repugnante começou a se desprender do corpo da criatura, que enlouquecida de dor, rodopiava pelo ar. Um vento sinistro balançava e parecia que iria derrubar as paredes da cripta. Gritos horríveis e vertiginosos tomaram conta do local. Subitamente, tudo voltou a silenciar. À sua frente, a bela mulher não passava agora de uma múmia retorcida, ressequida e sem vida a fitá-lo com olhos carregados de ódio. Um braço despencou ao solo, acompanhado de um grito pavoroso. Em seguida, uma perna e depois a cabeça, que ao encontro do piso de pedra, se despedaçou em meio a uma nuvem de poeira.

Michel, nesse momento, sentiu algo esbarrar em suas pernas. Horrorizado, constatou ser o corpo de um daqueles seres cadavéricos que haviam se afastado com a chegada da rainha. Um zumbido informava que o bando havia retornado.

Olhou à sua volta e se viu cercado. Mãos esqueléticas agarraram-no então, numa ânsia louca e desenfreada. Sentiu uma dentada na perna, outra no pescoço e a escuridão sem fim tragar o local. A tocha havia se apagado.





Fim

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