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Os ratos do Cemitério - Henry Kuttner - Sugestão de Leitura

Atualizado: há 5 dias

Um conto de terror claustrofóbico e aterrorizante, Os Ratos do Cemitério foi criado pelo escritor americano Henry Kuttner em 1936 e recentemente adaptado para uma série intitulada O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro na Netflix.


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Análise do Conto


Na história, o zelador de um cemitério declara guerra aos ratos que estão invadindo seu local de trabalho e que tem o péssimo habito de furtar os corpos dos que são ali enterrados.


1. Elementos Lovecraftianos e o Cenário de Salem


O conto se passa em Salem, um cenário que imediatamente evoca a feitiçaria, a história sombria e o terror cósmico, frequentemente explorado no Círculo Lovecraft (do qual Kuttner fazia parte). As referências a Cotton Mather, cultos diabólicos que veneravam Hécate e a Magna Mater, e lendas de uma "vida inumana, moribunda" nas profundezas da terra não apenas ambientam a história, mas a conectam diretamente com o Mito de Cthulhu, sugerindo horrores ancestrais e inomináveis. Os ratos não são meros roedores; são "mensageiros entre este mundo e o outro", organizados por um "líder impassível e extraordinariamente inteligente", elevando a ameaça de praga a um terror de natureza oculta e sobrenatural.


2. O Protagonista Anti-Herói: Masson


Masson é um protagonista complexo e moralmente ambíguo. Ele não é o herói inocente confrontado pelo mal, mas sim um ladrão de túmulos que, ironicamente, precisa proteger sua "presa" (os cadáveres com joias e ouro) dos ratos. Sua ganância o leva a desafiar um perigo que ele deveria temer, e é essa falha moral que o conduz à sua destruição.


"O Velho Masson, zelador de um dos mais antigos e relaxados cemitérios da cidade de Salem, vivia eternamente às voltas com os ratos. Há gerações atrás, tinham vindo eles dos molhes, dos cais, e se instalaram no cemitério, uma verdadeira colônia de enormes ratos. Quando Masson passou a ocupar o atual cargo, após o desaparecimento inexplicável do outro zelador, decidira dar-lhes caça."

(Trecho do conto)

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O clímax se desenrola quando Masson, impulsionado pela ganância (ele não queria perder os botões de punho e o alfinete de pérola de um cadáver), decide ir atrás dos ratos. Ele engatinha em um dos túneis, e é aqui que o horror de Kuttner atinge seu ápice:

O túnel se torna uma câmara de tortura. A claustrofobia é palpável: o ar fétido, o desmoronamento da terra e a impossibilidade de se virar criam uma agonia crescente. A caçada se inverte e Masson se torna a presa.

Ele se depara não só com os ratos (agora numa horda frenética), mas também com um horror esquelético e móvel, uma múmia que se arrasta e grita, um fantasma do submundo que apenas reforça o caráter profano do lugar.


"Ouviu guinchos excitados e o mover de muitos pés. Iluminando com a lanterna, Masson prendeu a respiração, num choque causado pelo susto, ao perceber uma dúzia de enormes ratos, que* o contemplavam firmemente, seus olhos rasgados, brilhando àquela luz. Eram enormes, tão grandes como gatos, e atrás deles entreviu uma sombra negra, que deslizou suavemente.

Masson estremeceu ante o descomunal daquela cousa invisível."

( trecho do conto)


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3. O Horror Visceral e Claustrofóbico


A força do conto reside no seu horror físico e sensorial:

  • Os Ratos: São descritos como anormais, do tamanho de gatos, com túneis "largos o suficiente para a passagem de um homem agachado." Kuttner os torna uma ameaça tátil e repugnante.

  • Claustrofobia: A descida de Masson pelos túneis é um exercício de terror claustrofóbico. O ar fétido, a sujeira, o desmoronamento e a impossibilidade de se virar criam uma ansiedade sufocante que acompanha o leitor até o final.



4. Simbolismo


O conto é rico em simbolismo:

  • Os Ratos: Representam a força irresistível e incontrolável da morte e do submundo. Eles são a "natureza" que engole os vestígios da civilização e da moral humana (Masson).

  • O Caixão Vazio: Simboliza o destino inevitável e a inversão de papéis: o caixão que ele deveria profanar torna-se o instrumento da sua punição.



5- Sobre o Autor

Henry Kuttner (7 de abril, 1915 – 4 de fevereiro, 1958) é considerado por muitos como um dos cinco maiores escritores de Ficção Científica e Fantasia da década de 40. Conseguia produzir brilhantes insights com seus personagens, valorizando o aspecto humano, sem menosprezar o aspecto tecnológico/fantástico. Seu estilo requintado levou um crítico a descrever suas histórias como ‘uma espiadela em um santuário secreto através de uma janela’. Trabalhava como agente literário, antes de vender sua primeira história, “The Graveyard Rats”, para a revista Weird Tales em 1936.

Foi casado com a escritora Catherine Lucille Moore (24 de janeiro de 1911 – 4 de abril de 1987) com a qual fez uma longa e bem sucedida parceria no mundo literário.


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Capa da revista Weird Tales publicada em março de 1936.


6-Conclusão

"Os Ratos do Cemitério" é uma obra-prima do terror que funde a repulsa física (ratos, sujeira, claustrofobia) com o terror lovecraftiano. É um lembrete sombrio de que, às vezes, a punição para a ganância não vem da lei dos homens, mas sim dos horrores inomináveis que espreitam nas tocas esquecidas.



7-🕯️- Quando a inspiração brota das sombras

Há histórias que nos marcam de forma tão profunda que permanecem conosco por toda a vida. Uma delas, para mim, é Os Ratos do Cemitério, de Henry Kuttner.

📖 Tive o prazer de ler essa obra-prima na antologia Horas de Terror, do Clube do Livro (edição de 1981), que ganhei de presente em 1986. A atmosfera sufocante e o terror claustrofóbico que Kuttner constrói com a descida de Masson nos túneis me impressionaram de tal forma que serviram de inspiração direta para a minha própria escrita.

Algum tempo depois, procurei trazer essa mesma sensação de aprisionamento e perseguição subterrânea em meu conto A Tumba do Horror — disponível aqui no blog. Nele, a ação é transportada para uma cripta recém-descoberta em Abidos, no Egito, onde um arqueólogo e seus auxiliares são caçados por criaturas rastejantes de origem sobrenatural pelos túneis estreitos e escuros.

Se você já leu o conto de Henry Kuttner ou se pretende lê-lo após essa análise, deixe seu comentário. Confira também A Tumba do Horror e me conte o que achou.

Abraços fraternos .


A Tumba do Horror:

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Até a próxima.

Alexandre Menphis



 
 
 

2 comentários

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Anderson
há 6 dias
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Esse conto é angustiante, mas muito bom. O capítulo na série da Netflix destinado a ele foi muito bem adaptado e produzido, vale a pena conferir. Adorei o Blog, encontrei no Google quando procurava informações sobre esse conto. Parabéns.😀👍

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Obrigado por seu comentário, Anderson, fico feliz que esteja gostando do Blog. Concordo com você, vale a pena conferir o episódio da série O Gabinete de Curiosidades de Guilherme Del Toro sobre esse conto. 👍😀

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