O Ouro dos Incas
- Alexandre Menphis
- 25 de set.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 2 dias
Mais do que Riqueza, Uma Conexão Divina com o mundo da Princesa Moara.

1. Introdução: Um Brilho que Não Era Monetário.
Quando pensamos no Império Inca, uma das primeiras imagens que vêm à mente é a do ouro. Lendas sobre cidades de ouro, como El Dorado, e a obsessão dos conquistadores espanhóis por este metal dourado ecoam na história. No entanto, para o povo Inca, o ouro não era um símbolo de poder econômico, de riqueza acumulada ou de moeda de troca. Sua importância era muito mais profunda, mística e sagrada.
Nesta postagem, vamos mergulhar na verdadeira importância do ouro para os Incas e explorar como essa essência espiritual se reflete nas páginas de "Moara, a Princesa dos Incas".
2. O Ouro: O Suor do Sol (A Cosmovisão Inca)
Para a cosmovisão andina, o ouro era considerado "o suor de Inti", o deus Sol, a divindade máxima do panteão inca. A prata, por sua vez, era vista como "as lágrimas de Mama Quilla", a deusa Lua.
Essa crença elevava o ouro a um status de elemento sagrado, não material. Ele não circulava como dinheiro, mas era utilizado para a criação de objetos rituais e adornos para a nobreza e os sacerdotes, principalmente ao imperador, o grande Sapa Inca, considerado descendente direto de Inti. Resumindo, seu uso era estritamente religioso e cerimonial:
Adornos para o Sapa Inca e a Coya: O Imperador e sua esposa, como representantes de Inti e Mama Quilla na Terra, usavam vestes e joias de ouro para refletir sua natureza divina.
Decoração de Templos: O ouro cobria as paredes do Qorikancha, o Templo do Sol em Cusco, de modo que, ao nascer do sol, o templo "brilhava" como se a luz do próprio deus estivesse contida ali.
Imagens e Oferendas: pequenas estatuetas de ouro eram criadas como oferendas aos deuses, em rituais que buscavam garantir a fertilidade da terra e o sucesso das colheitas.
O ouro era, portanto, uma manifestação tangível do divino na Terra, uma forma de honrar e se conectar com os deuses.

3. O Brilho do Ouro nas Páginas de Moara
Em "Moara, a Princesa dos Incas", essa importância sagrada do ouro é capturada e transformada em um símbolo de status, mas também de uma identidade perdida.
Ouro como Símbolo de Poder e Linhagem: Na cena da cerimônia do Inti Raymi, as descrições das "liteiras douradas" e das "vestes douradas que resplandeciam" do Sapa Inca e sua Coya refletem diretamente a reverência e a pompa com que a nobreza inca se apresentava.
"O som de um gongo de ouro ecoando no salão chamou a atenção de todos para a chegada do séquito real. Oriundo do corredor principal, guarnecido por guerreiros vestindo penas, as primeiras figuras que encabeçavam o cortejo foram avistadas. Um grupo de sacerdotes de Inti, oito no total, liderados por Amupavac, trazia um lhama amarrado por um cordão dourado... Todos se curvaram diante do Sapa Inca e sua Coya, cujas vestes douradas resplandeciam. Grande era a quantidade de ouro, nos adornos, nos braceletes, mas principalmente nos diademas que os reis portavam nas cabeças."
O uso de ouro em seus "adornos, nos braceletes, mas principalmente nos diademas" não é apenas uma ostentação; é uma afirmação de sua linhagem divina.
Também as descrições das vestes e adornos de Moara e sua avó Mamalbuna ilustram perfeitamente essa conexão da nobreza com o metal sagrado, que reflete a sua linhagem ancestral.
"Mamalbuna, mãe de um dos monarcas do grande Império Inca, agora falecido. Sentada em um banco estofado de penas e revestido de pele de alpaca, trajava uma túnica longa e colorida de cumbi, um nobre tecido andino fino e luxuoso, geralmente empregado nos vestuários da corte incaica. Sobre os ombros, uma mantilha azul que protegia sua pele das picadas dos insetos. Na cabeça, ostentava um toucado de ouro ornamentado com penas coloridas, o qual prendia seus cabelos grisalhos. Nos pés, calçados de fibra vegetal."

A princesa trajava uma túnica amarela, também confeccionada no nobre tecido da realeza andina. Uma tiara de ouro no formato de um pássaro mantinha parcialmente presos os cabelos negros e lisos que desciam além dos ombros. Braceletes e pulseiras também de ouro ornavam seus braços. Contrariando os desejos da avó, a princesa havia deixado muito de seu aparato real guardado nos baús que trazia na viagem. Entre os objetos guardados, muita coisa era de ouro, o malfadado metal que despertara a cobiça dos estrangeiros de pele branca, ocasionando o extermínio de muitos de seu povo, inclusive o grande “Sapa Inca”, seu pai."

A descrição da "tiara de ouro" e dos "braceletes e pulseiras" que Moara usa, e do "toucado de ouro ornamentado com penas" de sua avó, não é apenas uma ostentação. É uma afirmação de suas linhagens divinas. Embora houvessem deixado seu reino para os conquistadores, o que haviam de fato perdido tratavam-se de bens materiais, não de valores espirituais.
O livro explora o contraste entre o ouro usado para ostentar uma identidade que Moara já não possui e o "malfadado metal que despertara a cobiça dos estrangeiros", que causou o extermínio de seu povo e de seu pai, o grande Sapa Inca. Esse contraste reforça a decisão da princesa em deixar Manoa e buscar um novo caminho. A jornada de Moara se torna uma busca não pelo ouro material, mas pela restauração do legado e dos valores que o ouro sagrado representa.

O ouro era usado para adornar os ricos e poderosos, demonstrando seu status e conexão com os deuses. O Sapa Inca Tupac Agogo, o imperador filho do sol e sua Coya, a rainha Agaska, filha da lua - do livro Moara, a Princesa dos Incas.
4. Conclusão: Um Legado que Brilha
O ouro dos Incas é um reflexo de uma sociedade que vivia em harmonia com a natureza e com o divino. Em vez de ser a fonte de conflitos e ambições desenfreadas, ele era um meio de expressar gratidão e de manter a conexão com o sagrado.
Ao ler "Moara, a Princesa dos Incas", somos convidados a enxergar além do brilho superficial do ouro. Ele nos ajuda a compreender a importância de uma civilização que valorizava a espiritualidade acima do material e que, mesmo após sua queda, continuou a brilhar nas lendas e nas histórias de seus descendentes.
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~Matéria super interessante, gostei muito. Parabéns pelo blog.😃